Formação

 

Princípios da música e do canto litúrgico



Introdução
                                                 
A música litúrgica tem características próprias. Tem diferença da música de mensagem ou da música aplicável a outros momentos celebrativos? Sim, a música litúrgica é diferente.

Para entendê-la melhor você pode consultar “Estudos da CNBB”, nº 79, (1998): A música litúrgica no Brasil.”

Aqui vamos destacar alguns princípios teológicos, litúrgicos, pastorais e estéticos que constam no texto Canto e música na liturgia pós-concílio Vaticano II, produzido pelo setor “Música Litúrgica” da CNB. O artigo completo está no site da CNBB. www.cnbb.org.br. Aqui apresentamos apenas um resumo.

Aqui trataremos de música litúrgica e canto litúrgico. Pode haver nas celebrações apenas música e não canto. Falando da música, estaremos abrangendo também o canto.   O texto produzido pela equipe da CNBB e sobre o qual queremos refletir fala sobre os dois.

Vejamos alguns princípios teológicos do canto litúrgico:

1. Princípios teológicos do canto litúrgico

1 – Inspiração Bíblica - Não se pode dissociar vida, música, celebração, bíblia. Pode-se? Não. É na intuição do Mistério de Cristo no cotidiano das pessoas e grupos humanos, que o autor e compositor litúrgico encontra sua fonte primeira de inspiração. O Mistério de Cristo precisa ser vivido e descoberto no dia a dia.

2 - Revela, segundo a cultura, a Encarnação -  A Música Litúrgica reflete o Mistério da Encarnação do Verbo. Ela brota da vida da comunidade de fé. Em que sentido?  Ela tem as características culturais da música de cada povo ou região. A cultura influencia na preferência dos gêneros musicais.

3 – Louvar com gêneros musicais diferentes de cada povo –  Então se pode cantar qualquer canto na missa desde que seja oração? Não. A diversidade de preferências precisa estar de acordo com o mistério celebrado e o modo como deve ser celebrado Deve-se buscar na cultura os gêneros musicais que melhor se encaixem na variedade dos tempos litúrgicos, das festas e dos vários momentos ou elementos rituais de cada celebração.

4 – Memorial – A Música Litúrgica é canto, são palavras, melodias, ritmos, harmonias, gestos, dança…  que recordam  fatos salvíficos. As melhores composições  são aquelas produzidas com forte inspiração bíblica. A música litúrgica é memorial.

5 – Penetra o mistério  – A Música Litúrgica leva a comunidade celebrante a penetrar no Mistério de Cristo. Que significa penetrar o mistério de Cristo?  Penetrar o mistério significa aprofundar-se no conhecimento dele. A música litúrgica deve levar a isto. Deve ajudar a pessoa a se aprofundar e a experimentar qual seja a largura, o comprimento, a altura, a profundidade… do  amor de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento (Ef 3,18-19).  No entanto, sua plenitude é incompreensível ao conhecimento humano. É um mistério que, mais do que ser compreensível, plenifica o coração.

6 – Conforta – A Música Litúrgica brota da ação do Espírito Santo, que suscita na assembléia celebrante o fervor e a alegria. Não de certa tristeza, por vezes? Provoca também em quem canta uma atitude de esperança, apesar de todo tipo de opressão, exclusão e morte.  A Música Litúrgica expressa a esperança de um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1; cf. Is 65,17).

Vejamos agora alguns princípios sobre os aspectos litúrgicos e pastorais do canto litúrgico:

2 – Princípios litúrgico-pastorais do canto litúrgico

1 - É oração com a Trindade  – A Música Litúrgica traz consigo o selo da participação comunitária em comunhão com a Trindade. Quem reza na Assembléia: Jesus ou a assembléia? A assembléia celebrante louva e agradece, suplica e oferece através do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo.

2 - Grandes feitos – Com palavras, música e dança a assembléia celebrante proclama os grandes feitos daquele que nos chama das trevas a sua luz maravilhosa (1 Pd 2,9). É feita pelo presidente da assembléia? Esta proclamação é feita pela assembléia e por aqueles que exercem diferentes ministérios nas celebrações. Todos, conforme o momento litúrgico e o modo previsto pela igreja.

3 - Diversidade ministerial  –  Quantas pessoas exercem funções diferentes numa celebração eucarística, por exemplo?  Normalmente, são várias. Os cantores exercem uma dessas funções, junto com a Assembléia. A Música Litúrgica manifesta o caráter ministerial da Igreja. No corpo de Cristo, a Igreja, há funções diferentes, exercidas de forma orgânica e sem perder de vistas a unidade convergente. Já percebeu como na harmonia do desenvolvimento da celebração, nem todos, a todo momento, fazem tudo? Exatamente. Todavia, todos comungam a mesma fé, vibram na mesma alegria, cantam em uníssono ou de modo polifônico, se balançam no mesmo ritmo, celebram em harmonia.  Todos estão  em torno da mesma Palavra.

4 - Requer sensibilidade do animador do canto – Cabe ao animador do canto litúrgico, a  sensibilidade e a sensatez,  na escolha dos cantos, assim como no aprendizado e na utilização do repertório mais conveniente.  É sempre observada esta sensibilidade? Nem sempre, mas ela é necessária. Na escolha e formação do canto litúrgico deve-se levar em conta os ambientes sociais e culturais, as vivências e contingências do cotidiano, as possibilidades e limitações de cada assembléia. O animador do canto precisa ter a sensibilidade de perceber quando e como fazer. No culto público da comunidade cristã os corações devem estar em sintonia.

5 - Reflete a comunhão de sentimentos – A Música Litúrgica é momento de solidariedade na assembléia celebrante. A solidariedade diz respeito apenas à assembléia? Não. Diz respeito a esta assembléia e à Igreja. Reflete as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo e das demais as pessoas.  Portanto, a música litúrgica é solidária.

Vejamos alguns princípios que contribuem para a beleza do canto litúrgico.

3 – Princípios estéticos do canto litúrgico

A música litúrgica relaciona-se com o belo, com a harmonia, com a estética que devem auxiliar na contemplação do mistério divino.

Vejamos alguns princípios estéticos que devem estar presentes no canto litúrgico.

1 - Utiliza elementos simbólicos – O canto litúrgico, em todos os seus elementos, palavra, melodia, ritmo, harmonia… participa da natureza simbólica e sacramental da celebração do mistério pascal de Cristo. Em que momento do ano ele é celebrado? É celebrado o ano inteiro, de acordo com o tempo do ano litúrgico e suas festas. Através de gestos e sinais, os participantes da liturgia o revivem e externam o que está no coração.

2 - Privilegia linguagem poética – A Música Litúrgica privilegia a linguagem poética. Por qual motivo? Porque é a que mais se ajusta  ao caráter simbólico da Liturgia. Não se deveria privilegiar textos explicativos? Na música deve haver um toque de poesia, de linguagem do coração. Evitem-se priorizar  textos de cunho explicativo ou didático, textos doutrinários, catequéticos, moralizantes ou ideologizantes, estranhos à experiência propriamente celebrativa. Música e texto formam o canto litúrgico.

3 - Prioriza texto –  A Música Litúrgica dá relevância ao texto, à letra, colocando tudo mais a serviço da plena expressão da palavra, de acordo com os momentos e elementos de cada rito. Há algum problema se a música é bonita mas o texto não muito adequado para certo momento litúrgico? Deve-se celebrar de modo adequado. Há textos apropriados para a abertura, para a aclamação ao Evangelho, para a Comunhão, enfim, para cada momento da celebração. Da mesma forma há textos adequados para o Advento, para a Quaresma, para o tempo Pascal e para os demais. A finalidade do texto e da música é, portanto, realçar a Palavra, emprestando-lhe sua força de expressão e motivação.

4 - Deve existir harmonia entre palavra e música – A Música Litúrgica deve realizar perfeita combinação entre o texto e a música. Em que consiste na prática esta simbiose? Consiste, entre tantos outros aspectos, que o texto seja composto de tal maneira que, no mínimo, a métrica e a cadência dos versos, bem como os acentos das palavras sejam convenientemente levados em conta pela música, evitando-se descompassos, desencontros e dissonâncias entre o embalo da música e a cadência dos versos ou os acentos de cada palavra. Letra e música devem estar em harmonia.

5 - Não depende de arranjos rebuscados –  A Música Litúrgica prescinde de tensões harmônicas exageradas. É dispensável o preciosismo de acordes no acompanhamento das músicas litúrgicas. Já observou como é o cato gregoriano? Pois é. O canto gregoriano e a grandiosidade da polifonia sacra continuam sendo referenciais inspiradores para quem se dedica a fazer litúrgico-musical. Favorecem a celebração. Autores, animadores e intérpretes da música litúrgica devem favorecer a celebração do mistério de Cristo.

6 - Fidelidade à inspiração do autor – A Música Litúrgica, ao ser executada, embora se destine a ser expressão autêntica de tal ou qual assembléia, deve manter-se fiel à concepção original do autor. Essa originalidade está expressa na partitura. Não se levando em consideração o contexto em que foi concebida, corre-se o risco de se perder as riquezas originais da sua inspiração e, conseqüentemente, empobrecer-lhe a qualidade estética e densidade espiritual. Sem contar aqui certos improvisos ou invenções de intérpretes que nem sempre contribuem para a concentração da assembléia no mistério celebrado.

7 - Beneficia-se com formação litúrgica – A música litúrgica tem princípios. Precisa ser entendida, aprendida e ensinada. Entretanto, como aprender se ninguém ensina ou não se busca? É verdade. Depende tanto do interesse pessoal e como dos responsáveis. Os responsáveis por  este múnus não devem se omitir. “Quem é o administrador fiel e atento, que o Senhor encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora certa? Feliz aquele servo que o Senhor, ao chegar, encontrar agindo assim!” (Lc 12,42-43). Não se pode descuidar da formação litúrgico-musical da assembléia.

Conclusão

O que fica da reflexão sobre os princípios que devem ser observados no canto litúrgico? Deve não ser esquecido que ele tem sua beleza teológica e estética. Com ele reza a assembléia celebrante que é nação santa, povo que o Senhor conquistou.

Por que este princípios são importantes? Porque o canto litúrgico tem função relevante na celebração. Guiando-se por estes princípios a liturgia se torna momento de  bênção e de graça, de palavra e de silêncio, de música e celebração dos filhos em torno do Pai, com o Filho, sob a moção do Espírito Santo, celebrando o mistério pascal de Cristo.

Podemos dizer que o canto litúrgico contribui para o tom da celebração? Sim, o canto litúrgico deve contribuir para o tom da celebração e da liturgia. Não deve desafinar.


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Banda ou Ministério de Música? Qual a diferença?



Segundo o dicionário Aurélio, a palavra “banda” pode ter vários significados, entre eles “lado”, “agrupamento músico de número de componentes e formação instrumental variada, que em geral executa música popular, ou marchas militares”. Antigamente, enquanto algumas atrações eram substituídas, uma banda ficava tocando (imagino eu que, provavelmente, em algum “canto” ou “lado” do cenário, tendo-se em vista a origem da palavra).

Já a palavra “ministério” tem um significado completamente diferente: “cargo”, “função”, “profissão”, onde quem o compõe exerce a função de “ministro”. Sem dúvida alguma, podemos associar ao ministério as palavras: serviço e compromisso.

Até o momento, muitos de nós podemos nos perguntar: “Mas e agora, na prática, o que isso significa?”. Vamos lá! O ministério de música está diretamente ligado a Igreja, tendo assim um compromisso com a mesma! Mas que compromisso seria esse? Primeiramente, como qualquer outro ministério, visa à edificação da Igreja. Ou seja, está a serviço Dela. Este ministério pode, muitas vezes, estar inserido em algum grupo de jovens, grupos de oração, como em geral vemos, mas não necessariamente apenas nesses lugares, mas em qualquer movimento da nossa Igreja.

Até agora já podemos visualizar uma certa diferença entre ambos. Mas ainda há mais! O ministério de música tem por objetivo levar o povo até Deus, fazendo com que as pessoas fixem seus olhos em Deus e não no ministério. Veja um exemplo: Muitas pessoas vão no show do Ministério Adoração e Vida, mas não para ver o Walmir Alencar ou demais membros do ministério, mas sim porque sabem que lá, através das músicas ministradas, terão, naquele momento, um encontro com Deus.

Pra que o ministério de música consiga atingir seus objetivos é necessário que os seus membros estejam completamente cientes disso e testemunhem com a vida o que é viver e assumir esse chamado de Deus. É dever de um ministro de música manter uma vida de oração pessoal, adorar, estar aberto ao que Deus tem para sua vida, viver os propósitos e caridades evangélicas... resumindo: estar em comunhão com Deus. Se a vida não estiver embasada nestes pilares corre-se o risco da música ser apenas tocada e não ministrada, o que abre brechas para que, muitas vezes, as pessoas desviem seu foco de Deus e se foquem nas pessoas presentes no ministério – podendo também o ministro tirar o seu foco de Deus.

Tendo em vista tudo isso, vale uma ressalva. Não é porque o ministro de música não busca reconhecimento próprio que ele não deve tocar bem. Uma vez assumido esse chamado, não convém que o ministro “se acomode”, fazendo seu trabalho de qualquer maneira. É ideal que se busque sempre estudar para valer o instrumento/voz, para ofertar o nosso melhor a Deus. Sabemos que durante a semana nem sempre é possível dedicar o tempo que gostaríamos para todas as coisas que desejamos. Mas é importante buscar, sempre que possível, uma maneira de se aperfeiçoar naquele dom que Deus lhe deu.

A banda, em sua essência, não tem esse vínculo e compromisso com a Igreja que os ministérios tem por natureza. Existem, sim, muitas bandas que, hoje em dia, se dedicam a Deus, que desejam contribuir para a edificação do Reino de Deus, mas não possuem a responsabilidade que o ministério possui.

Existem muitos ministérios que percorrem o mundo fazendo shows, lançando CDs, DVDs e etc. Mas, em momento algum, podem se esquecer do seu compromisso com a Igreja e de seus objetivos.

Que possamos, através dessa formação, refletir também sobre a nossa postura, em especial aos que hoje são chamados a proclamar a Boa Nova em um ministério de música, e continuar firmes nesta luta contra o pecado e tudo aquilo que tem nos impedido de estar em comunhão com Deus!

Deus os abençoe!